Lido em: Dezembro/2015
Autor: Anthony Doerr
Editora: Intrínseca
Categoria: Drama/Ficção/História Geral/Romance
Páginas: 528


Avaliação








Sinopse
Marie-Laure vive em Paris, perto do Museu de História Natural, onde seu pai é o chaveiro responsável por cuidar de milhares de fechaduras. Quando a menina fica cega, aos seis anos, o pai constrói uma maquete em miniatura do bairro onde moram para que ela seja capaz de memorizar os caminhos. Na ocupação nazista em Paris, pai e filha fogem para a cidade de Saint-Malo e levam consigo o que talvez seja o mais valioso tesouro do museu. 
Em uma região de minas na Alemanha, o órfão Werner cresce com a irmã mais nova, encantado pelo rádio que certo dia encontram em uma pilha de lixo. Com a prática, acaba se tornando especialista no aparelho, talento que lhe vale uma vaga em uma escola nazista e, logo depois, uma missão especial: descobrir a fonte das transmissões de rádio responsáveis pela chegada dos Aliados na Normandia. Cada vez mais consciente dos custos humanos de seu trabalho, o rapaz é enviado então para Saint-Malo, onde seu caminho cruza o de Marie-Laure, enquanto ambos tentam sobreviver à Segunda Guerra Mundial.


Resenha
Deparei-me com esse livro por acaso, quando uma colega do meu antigo estágio comprou-o. Logo que vi que falava sobre a Segunda Guerra Mundial, fiquei empolgada e curiosa para lê-lo. Minha amiga da faculdade meu deu esse livro de presente de aniversário e não posso negar que foi amor à primeira vista. O livro conta em detalhes a história emocionante e devastadora de duas crianças que não tiveram escolhas a não ser suportar à terrível tragedia que foi essa guerra, sendo completamente diferente de qualquer outro livro que contou a história desse período tão marcante.

A história se passa durante a Segunda Guerra Mundial, e cada capitulo rola uma mudança no tempo, um vai e vem, entre 1940 e 1944, alternando entre passado e presente até que os dois se encontrem. Intercalando entre capítulos e subcapítulos, ora Marie ora Werner, o autor mostra a história de vida das duas personagens de forma maravilhosa e envolvente.

Marie-Laure LeBlanc é uma garota francesa que ficou cega aos seis anos e vive com seu pai, Daniel LeBlanc, um chaveiro do museu de história natural em Paris. Por causa da filha debilitada, ele resolve construir uma maquete do bairro onde moram a fim de ensiná-la a ser independente e conseguir se localizar sempre. Porém, quando a guerra começa, eles são obrigados a se mudarem para cidade fortificada de Saint-Malo, no norte da França, até a casa do tio-avô Etienne, enquanto pai de Marie-Laure carrega consigo um valioso (e perigoso) tesouro.

Werner Pfenning é um garoto alemão, órfão, que vive com sua irmã, Jutta, e outras crianças em um orfanato numa região de minas de um distrito pobre da Alemanha. Frau Elena é a cuidadora do orfanato, de origem francesa e a única figura materna de Werner. Sempre muito curioso e sonhador, ele encontra um velho rádio quebrado durante um de seus passeios pelos entulhos e a partir daí encontra sua vocação e maior paixão: graças ao programa francês misterioso que escutava, Werner se vê perdidamente interessado pelo mundo da aritmética, engenharia e mecatrônica. Assim que a guerra estoura, numa tentativa de fugir do trabalho nas minas (local onde seu pai morreu soterrado), ele começa a consertar e estudar as peças e engrenagens que tornam o rádio tão fascinante, tornando-se conhecido pelo bairro por seu talento com os consertos, até ser descoberto por um senhor importante que o recomenda para uma escola da Juventude Hitlerista, onde ele expande sua vocação, passando a trabalhar com um professor em um laboratório desenvolvendo suas habilidades de engenheiro elétrico.

Além de Marie-Laure e Werner, existem outras personagens secundários que tem tamanha importância no livro e nos cativam tanto quanto os principais: Volkheimer, um jovem muito forte com grandes conhecimentos científicos e que realiza um feito que demonstra sua lealdade ao amigo; Frederick, um garoto pequeno, que ama pássaros e é extremamente amável, porém não se encaixa na escola da Juventude Hitlerista como era esperado. Também temos o mega dedicado pai de Marie-Laure, o tio-avô Etienne e a governanta da casa, madame Manec, que ajudam muito na hora da necessidade, acolhendo os dois enquanto fugiam da guerra. Há também outras personagens não tão boas (como um certo sargento) que dão certa estrutura para o autor trabalhar outras questões em seu livro.

Toda Luz Que Não Podemos Ver traz um formato de história improvável, mas que funciona maravilhosamente bem, já que foge do padrão de se restringir à visão alemã, inglesa ou judia. Em capítulos curtos, porém, com riqueza de detalhes, Anthony Doerr consegue transformar as passagens mais sombrias como se fosse uma ópera, de forma intensa, mas poética, lírica e muito comovente, mostrando o sofrimento provocado pela guerra em todas as suas vertentes. Ele não foca apenas no sofrimento dos judeus, como em muitos livros, mas nos civis e também nas crianças alemãs que foram transformadas em soldados a força e nas pessoas que foram presas e escravizadas, naqueles que tentavam de alguma forma lutar pela paz.

Eu fiquei realmente encantada com a escrita do autor, repleta de detalhes que conferiram ao enredo uma atmosfera de fantasia, especialmente ao contextualizar a forma como Marie-Laure "enxergava" o mundo, através dos sons, dos cheiros e do toque, de coisas que nós não somos capazes de perceber com os olhos. Eu me inspirei muito com a personagem, que me emocionou por diversas vezes, especialmente quando demonstrava seu modo colorido de ver o mundo, ainda que na verdade não o visse.

Já Werner tinha consigo aquela insegurança da infância, que o impedia de pensar sobre os acontecimentos e fazer qualquer coisa além do que era ordenado a fazer; isso quase me fez acreditar que ele seria mais uma máquina de guerra nazista. Mas fui enganada e fiquei extremamente feliz com isso. Ele tentava, na verdade, não ver a realidade como ela era, mas quando percebeu o quanto isso poderia custar, decidiu mudar antes que fosse tarde demais.

Toda Luz Que Não Podemos Ver é um livro doce sobre a guerra, delicado, e apesar de ter aqui e ali alguns pontos de escuridão, transborda em cores e em luz. É daqueles livros que não conseguimos parar de ler, que nos leva a refletir sobre a delicadeza do existir, da ânsia pela busca da felicidade em situações nem sempre acontecem como esperamos, mas, sobretudo, é um romance que relata a sobrevivência de seres humanos e suas possibilidades de mudar o mundo. O momento mais emocionante é, sem dúvida, na minha opinião, quando os dois protagonistas se encontram, além do final arrebatador. É um livro que nos ensina a ver o mundo além do que nossos olhos podem ver, que mostra tudo o que há além do mundo visível e nos convida a ver toda a luz que não podemos ver.