Lido em: Fevereiro/2015
Autor: Robert Sharenow
Editora: Rocco
Categoria: Romance/YA-Young Adult/Drama
Páginas: 392


Avaliação
 








Sinopse
Karl Stern nunca esteve numa sinagoga. Mas para os valentões de sua escola em Berlim a simples ascendência judaica da família faz dele uma vítima da perseguição nazista. Para se defender, o garoto começa a treinar boxe com o campeão Max Schmeling, e logo encontra no esporte uma paixão que o ajuda a ganhar coragem não só no ringue, mas na difícil vida fora dele. Quando Schmeling é cooptado pelo regime nazista, no entanto, Karl começa a se perguntar em quem pode realmente confiar. Mesclando ficção e fatos históricos, o pesquisador Robert Sharenow constrói um emocionante romance de formação ambientado na Alemanha de Hitler.


Resenha
Sabe aquele livro que a gente começa a ler sem muita expectativa? Pois é, esse foi o meu caso com O Clube de Boxe de Berlim. E, olha, levei um soco na cara! Que livro fantástico! Sou apaixonada pela história da Segunda Guerra Mundial e não posso ter ficado mais feliz com uma história tão linda como essa. Estamos tão acostumados a ver o lado ruim dessa terrível guerra, como foi devastadora, que esquecemos que existem outras versões daquele absurdo. Nesse livro conseguimos ver um pouco como foi a Alemanha naquele período, como muitas pessoas foram tratadas e sobreviveram. Podemos dizer que pelo menos para Karl Stern, o boxe salvou sua vida da forma mais imprevisível possível.

A história do livro se passa entre 1934 e 1938, o período que antecede a Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, não se torna menos chocante ver tudo o que acontece com os judeus desde aquela época. Eles perdem seus direitos aos poucos até não restar nada. Um crime contra um judeu não é mais considerado um crime, e sim um direito dos arianos. Afinal, nenhum deles deveria existir. São vistos como obstáculos à evolução da raça e, quanto antes forem eliminados, melhor para a Alemanha. 

Karl Stern é um garoto que tem sangue judeu de quase todos os lados da família e apesar disso, sua família nunca praticou a religião. Karl nem mesmo consegue entender direito a crença judaica, mas isso não faz diferença quando a guerra começa. Ele passa a ser perseguido pelas pessoas que conhecem suas origens. Felizmente para o garoto, ele não parece judeu. Tem traços delicados, é loiro, magro e alto, o que o ajuda a circular sem medo pelas ruas.

Um dia Karl leva uma surra dos valentões da escola, e Max Schmeling, amigo de seu pai, campeão de boxe, percebe o menino machucado durante uma visita à galeria de obras de arte do pai do menino. Vendo a tristeza e vergonha dele, Max propõe algo inusitado: levará um quadro da galeria de seu pai e pagará com aulas de boxe para o garoto. Karl se anima desde o início. Seu pai, apesar de não gostar nada da ideia (a vida já não estava nada simples nem fácil, e o dinheiro da venda seria mais que bem-vindo, né), acaba concordando. Karl, então, conhece O Clube de Boxe de Berlim, e descobre que o esporte pode fazer mais por ele do que imaginou.

Misturando ficção e realidade, Robert Sharenow, através de uma minuciosa pesquisa de época, recria nesse romance o cenário da Alemanha Hitlerista e os efeitos dela resultantes no comportamento do povo alemão, em resposta a maciça campanha nazista. Karl, apesar de ser apenas uma criança, sofre na pele esses efeitos, vivenciando a violência e a opressão junto com sua família.

Como era de se esperar, Karl se apaixona pelo esporte aos poucos, conforme se sente mais confiante e aprende cada dia mais sobre as técnicas. Só que essa não é sua única paixão. Ele ama desenhar desde sempre e cria várias histórias em quadrinhos, principalmente para sua irmã mais nova Hildy, criando seus próprios quadrinhos de Winzig und Spatz, inspirados no livro Die Abenteuer von Winzig und Spatz.

Essa é uma parte fantástica do livro: as ilustrações, que nada mais são do que as tirinhas criadas pelo rapaz e alguns outros desenhos que ele faz, como retratos de seus adversários nos ringues com anotações sobre seus pontos fortes e fracos. Fica claro o quanto o boxe se torna tão importante para ele, como seu sonho de ser cartunista.

Acompanhamos passo a passo a evolução mental e física que Karl passa durante seu treinamento, deixando para trás o medroso e franzino adolescente, para se tornar um jovem forte, autoconfiante e determinado. A revolta que cresce dentro dele, diante da barbárie praticada pelos alemães nazistas, contagia o leitor de forma arrebatadora, nos levando a experimentar os mesmos sentimentos percebidos pelo personagem.

Eu fiquei muito surpresa ao descobrir depois que algumas das personagens foram baseadas em pessoas reais: o lutador Max Schmeling existiu de verdade! Isso só aumentou o valor de todo o livro para mim. O autor ouviu vários depoimentos para escrever a história, acredito que isso tenha ajudado bastante a tornar tudo tão incrível.

Entre jabs, uppercuts e diretos, o livro emociona e instiga ao mesmo tempo. Ao final, somos nocauteados por uma bela mensagem de esperança e pela crença em um futuro livre de opressões e discriminações. Super recomendo!