Lido em: Março/2015
Autor: Chuck Palahniuk
Editora: LeYa 
Categoria: Romance Policial/Sátira/Ficção
Páginas: 360


Avaliação








Sinopse
Tender Branson, nosso anti-herói americano, é um homem solitário, que alimenta seu peixinho com Valium e presta serviço à possíveis suicidas incentivando suas mortes, mas que viveu toda a infância e adolescência junto à sua família de treze irmãos numa comunidade de fanáticos religiosos. 

Então, ele sequestra um avião e decide se matar. Mas, enquanto o avião possuir combustível, ele resolve contar a história de sua vida para a caixa-preta, numa tentativa de explicar como diabos um sujeito decadente como ele quase se transformou em uma celebridade religiosa.


Resenha
Eu conheci o Chuck Palahniuk pelo livro mais conhecido e épico dele, Clube da Luta. Desde então, me tornei uma fã decidida a encontrar todas as obras dessa cara sarcástico e incrível. Um dia, num passeio pela FNAC da Av. Paulista, encontrei esse livro e decidi que precisava lê-lo de qualquer forma. Sou apaixonada por histórias diferentes, sátiras, com bastante sarcasmo. Conhecendo o Chuck, já sabia que não haveria erro com esse livro.

Sobrevivente é um livro extremamento provocativo, ácido, crítico, com muito humor mórbido, que através de um excelente uso de ironia e sarcasmo, conta a improvável trajetória de Tender Branson. Ao mesmo tempo que a história se desenvolve e você vai conhecendo mais o personagem, o livro não te prende só pelos acontecimentos e a vida do Tender, mas pela crítica mordaz que faz à sociedade.
Narrado em primeiro pessoa, podemos ver desde o começo que Tender é uma pessoa fora do comum. Ele faz parte de uma seita nos EUA chamada de Crendice, que é o extremo do fanatismo e loucura, funcionando de uma forma MUITO louca com seus fieis: duas pessoas devem se casar e procriar o máximo possível. O primogênito, que se chamará Adam, irá casar e permanecer na comunidade da igreja. Todos os outros filhos homens se chamarão Tender, e terão que ir para o ‘mundo a fora’, para trabalhar e mandar todo o seu dinheiro para a igreja. Já as mulheres devem se chamar Biddy, e as que não se casarem com algum Adam, também irão para o mundo a fora ao completar 17 anos.

Tender divaga muito durante sua narração, muitas vezes dando dicas de trabalhos domésticos, porque foi para isso que ele foi treinado a vida toda, para trabalhar para pessoas, principalmente as ricas. Branson faz todo tipo de trabalho doméstico para patrões que ele nunca conheceu, apenas seguindo ordens através de um interfone, e que dependem dele para tudo, até mesmo para lhes dizer o jeito correto de se comer uma lagosta (WTF?).

Certa vez, uns dez anos antes dos principais acontecimentos do livro, após o começo de uma investigação policial, todos os membros da igreja cometem suicídio, alegando que foram chamados por Deus. Havia mais de mil membros espalhados pelo país, e pouco a pouco todos foram se matando, apesar dos esforços das ONGs e do Governo. Porém, acreditavam que os suicídios haviam diminuído bastante, chegando a restar pouco mais de 100 sobreviventes. Mas, em algum tempo depois, Tender Branson é considerado o único membro da seita restante. O único sobrevivente (badumtss!).

O tempo não era vital. Pense nisso como um valioso treinamento do dia a dia. Pense na sua vida como uma brincadeira doentia. Como se chama uma assistente social que detesta o trabalho e perde todos os clientes? Falecida. Como se chama o policial que a embrulha em uma sacola de borracha preta? Falecido. Como se chama o âncora de TV que fala ao vivo do jardim de entrada? Falecido. Não importa. A piada de todo mundo termina do mesmo jeito. 

Algo muito curioso é que a numeração das páginas, assim como dos capítulos, é em contagem regressiva. Começa da página 353 e vai diminuindo, até o final fatídico do personagem. Isso foi algo que me confundiu e surpreendeu no começo, mas foi fácil me acostumar, porque depois de um tempo fazia sentido esse cronologia.

As lições que a história passa são muito bem elaboradas e ficam na cabeça mesmo depois de muito tempo. A sátira explícita da sociedade, seus valores, seus ídolos e modelos e a reflexão sobre fé e religião que permeia a história e a uma interessante dissertação sobre sexo no final, tudo isso torna a obra muito bem elaborada e divertida. Uma obra prima da literatura contemporânea, podemos dizer. Se Clube da Luta lhe apeteceu, Sobrevivente não tem erro. Principalmente para quem gosta de desconforto e provocação por meio de temas delicados tratados sem tabu.