Lido em: Setembro/2015
Autor: Gillian Flynn
Editora: Intrínseca
Categoria: Mistério/Romance Policial
Páginas: 254


Avaliação

Sinopse
Recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde foi internada para tratar a tendência à automutilação que deixou seu corpo todo marcado, a repórter de um jornal sem prestígio em Chicago, Camille Preaker, tem um novo desafio pela frente. Frank Curry, o editor-chefe da publicação, pede que ela retorne à cidade onde nasceu para cobrir o caso de uma menina assassinada e outra misteriosamente desaparecida.

Desde que deixou a pequena Wind Gap, no Missouri, oito anos antes, Camille quase não falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã, praticamente uma desconhecida. Mas, sem recursos para se hospedar na cidade, é obrigada a ficar na casa da família e lidar com todas as reminiscências de seu passado. Entrevistando velhos conhecidos e recém-chegados a fim de aprofundar as investigações e elaborar sua matéria, a jornalista relembra a infância e a adolescência conturbadas e aos poucos desvenda os segredos de sua família, quase tão macabros quanto as cicatrizes sob suas roupas.

Resenha

Objetos Cortantes foi minha 29º leitura de 2015 e é o livro de estreia da Gillian Flynn, inclusive o primeiro que leio dela. Conheci a autora por causa do seu maior sucesso literário Garota Exemplar, que virou filme e chocou muita gente com sua genialidade (inclusive eu mesma). Ainda não li Garota Exemplar, havia começado em ebook pelo celular, mas acho que por causa da minha preferência em livros físicos, acabei desistindo antes da metade e optei em ver o filme primeiro. Nem preciso falar que estou louca para lê-lo agora né?

Mas voltando ao Objetos Cortantes: que livro! Claro que por ser o primeiro lançamento da autora não deve ser tão grandioso quanto os outros, mas com certeza foi uma estreia espetacular. Isso instiga a vontade de ler todos os livros dela. De certa forma, podemos enxergá-lo como um livro sobre mulheres, com todos os seus conflitos e problemas. Ele é forte, doentio e perturbador. São problemas reais e que acontecem com qualquer um, e acho que é isso que mais nos choca. Absolutamente todo mundo é problemático nesta história, e nada do que acontece é bonito ou doce. Nada. Todos os livros que lemos, temos a natural avaliação dos personagens da história, em busca de alguém em quem se possa confiar, quem estará sempre falando a verdade, fazendo as melhores escolhas, oferecendo segurança à personagem principal. Em Objetos Cortantes, esse "porto seguro" simplesmente não existe. O que, novamente, nos perturba, pois está totalmente fora da nossa zona de conforto literária.

A personagem principal e narradora da história se chama Camille Preaker. Ela é uma jornalista mediana de Chicago, com seu emprego mediano e vida mediana aos 30 e poucos anos. Ela é enviada à sua cidade natal no Missouri para investigar os desaparecimentos de duas garotinhas, que podem estar ou não interligados, e provar seu potencial para o editor chefe do Daily Post, Frank Curry. Porém o maior problema é que a relação de Camille com a sua família (e o restante da cidade, para falar a verdade) é péssima, do tipo que só se pode imaginar em uma cidade pequena com pessoas entediadas e fofoqueiras. O retorno àquele lugar significa lidar com uma mãe que nunca a amou, os fantasmas de uma adolescência rebelde, a morte da sua irmã mais nova 20 anos antes, e com uma meia-irmã que ela mal conhece, mas que podemos ver que não é a melhor garota do mundo.

Nesse livro, não há mulheres indefesas, que precisam de amparo e proteção o tempo todo. Todas são parte de uma loucura maior que elas, e às vezes, deixando-a sobressair. Mulheres podem ser doentias, podem ser cruéis, ser frias e, principalmente, mulheres podem ser ótimas vilãs ou personagens principais daqueles menos confiáveis possível, que vão nos surpreender mais ainda no final.

De forma geral, Objetos Cortantes é um livro fascinante, ele incomoda, te deixa boquiaberto e proporciona uma conexão forte com as personagens, principalmente com a Camille, pois você consegue sentir o mesmo que ela e isso, para mim, é maravilhoso. A única coisa na minha opinião é que ele peca um pouco na lentidão dos acontecimentos e é um pouco previsível, caso você já acompanhe romances policiais há muito mais tempo. Dá pra perceber que a história tem um ótimo potencial, mas não chega aos pés de um Thomas Harris ou Ágatha Christie. Mas a gente dá um desconto, afinal, é o livro de estreia da Gillian. Então, se você não está atrás de uma princesinha apaixonada e melosa, indefesa e perdida, e curte uma história mais dark, sem heróis e heroínas para salvar o dia, recomendo demais esse livro.